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Boletaceae

Píleo escamoso, fibriloso, tomentoso, granuloso, velutíneo a glabro, frequentemente tornando-se tesselado-rimoso, víscido a seco, pequeno a grande. Himenóforo variadamente poroso, raramente lamelado. Tubos curtos ou longos, decurrentes, adnatos a depressos, geralmente separando-se facilmente do contexto do píleo; poros algumàs vezes amarelados, marromavermelhados até oliváceos ou marrom-amarelados, geralmente cambiando de cor quando machucados. Estipe de carnoso e central a excêntrico ou lateral. Contexto carnoso, da mesma cor que os poros ou não. Veu presente ou ausente, geralmente não persistente como anel. Esporada páleo-olivácea a profundamente olivácea, cinamômea, castanha a rosa-vinácea, ocrácea a amarelolimão. Esporos geralmente não bem coloridos sob o microscópio, de méleo a méleo-amarelados ou rosa-pálidos, parede lisa ou variadamente ornamentada, moderadamente engrossada, com poro germinativo ou calus, versiformes, de globosos a cilíndricos ou fusoides, cianófilos. Cistídios geralmente presentes. Trama himenoforal geralmente algo bilateral em basidiomas jovens. Hifas com ou sem fíbulas.

Crescendo em solo ou mais raramente em madeira. Formam micorriza ou não.

Esta ordem originalmente era composta por poucas famílias, mas a biologia molecular tem revelado que é composta por várias outras, incluindo fungos ressupinados e crostosos (Coniophorineae e Tapinelineae), fungos gasteroides (Sclerodermatineae) e outros agaricoides (Hygrophoropsidaceae) e formas gasteroides e secotioides. São pertencentes à ordem as seguintes famílias no momento: Boletaceae, Boletinellaceae, Calostomataceae, Coniophoraceae, Diplocystaceae, Gasterellaceae, Gastrosporiaceae, Gomphidiaceae, Gyroporaceae, Hygrophoropsidaceae, Paxillaceae, Protogastraceae, Rhizopogonaceae, Sclerodermatacee, Serpulaceae e Suillaceae. Somente serão tratados aqui os gêneros que formam cogumelos verdadeiros, ainda que com himenóforo tubular.

SINGER (1986) reconheceu 22 gêneros importantes como alimento e em função de apresentarem relação micorrízica nesta ordem. As espécies encontradas no Rio Grande do Sul são descritas em PUTZKE et al. (1994) e lista recente para o Brasil é apresentada por NEVES & CAPELARI (2007).

Muitas espécies são erradamente consideradas Boletus pela população leiga, mas este gênero é confundido com todos os outros que ocorrem por aqui, em especial algumas recentemente introduzidas, acidental ou propositalmente. Um estudo destas espécies é urgente

Quanto à ocorrência de espécies da ordem no Brasil, o primeiro registro parece ser o de RICK (1905) para o Rio Grande do Sul, onde é descrito Boletus brasiliensis Rick e o de RHEM & RICK (1906), onde é descrita Boletus tropicus Rick. Em RICK (1906) são citados Boletus tropicus Rick e Boletus mutabilis Morgan var. austro-americana Rick. RICK (1907) citou Phylloporus rompelii Pat. et Rick, em RICK (1926) foi descrito Boletus cinnamomeus Rick e em RICK (1937), B. neo-olivaceus Rick e Phylloporus flavipes Rick. Todas as espécies encontradas pelo padre jesuíta Johannes Rick no Rio Grande do Sul, inclusive os manuscritos não publicados em virtude de sua morte em 1945, foram reunidos e publicados em obra póstuma [RICK (1960)], onde são apresentadas todas as Boletaceae registradas para o território Riograndense até a data e, entre as já citadas mais acima, é descrito ainda Phylloporus pratensis Rick e citado Boletus panormitanus Inzeng., totalizando 9 espécies desta família na área. SINGER (1944) revisa a espécie descrita como Boletus tropicus Rick, sinonimizando-a com Phaeogyroporus tropicus (Rick) Singer. SINGER (1945) revisou Boletus brasiliensis Rick, propondo a combinação Xerocomus brasiliensis (Rick) Singer. SINGER (1953), revisando os tipos descritos por Rick, constata a inexistência de exsicatas das espécies Boletus mutabilis var. austroamericana Rick, Boletus spadiceus Karsten senso Rick, B. cinnamomeus Rick e B. neoolivaceus Rick no herbário PACA de São Leopoldo - RS.

As espécies são, portanto, "nomen dubium". No mesmo trabalho, Singer considerou Phylloporus flavipes Rick como possivelmente similar a Xerocomus brasiliensis (Rick) Singer e Phylloporus rompelii Pat. & Rick é considerado um nome válido.

Outros trabalhos posteriores, como SINGER & DIGILIO (1960) e SINGER (1964) trazem mais dados acerca de Boletales conhecidas para o Brasil. Entretanto, nenhuma espécie é citada como nova. GUERRERO & HOMRICH (1983) citam ainda Suillus granulatus (L. ex Fr.) Kuntze e S. luteus (L. ex Fr.) S. F. Gray, as quais são exóticas, já que foram introduzidas com os cultivares de Pinus (Pinófita). PEREIRA & PUTZKE (1989) citam como ocorrendo no Rio Grande do Sul, 6 gêneros, a saber: Gyroporus, Phlebopus, Gyrodon, Suillus, Xerocomus e Boletus. Este último, entretanto, não teve sua ocorrência confirmada, em virtude de não existir material preservado das espécies citadas por RICK (1960) sob este nome genérico. Introduções mais recentes confirmam a ocorrência de espécies deste gênero, agora já comumente utilizadas como alimento no Brasil, sob a denominação popular “Portini” ou “Porcini”.

Para o Brasil uma série de espécies são citadas em trabalhos como de SINGER et al. (1983) e SINGER (1989). OLIVEIRA (1987) e OLIVEIRA & SOUZA (1996; 2002) apresentam as espécies encontradas na Paraíba. NEVES et al. (2012) registram a ocorrência de 43 espécies de Boletaceae para o Brasil, atualizadas para 54 em MAGNAGO (2014).

Segue uma chave para os gêneros encontrados (com suas respectivas famílias atuais entre parêntesis) para seu fácil reconhecimento:

Chave para os gêneros de Boletaceae referidos para o Brasil:


Referência

  • Putzke, Jair & Putzke, Marisa. (2019). Cogumelos (fungos Agaricales) no Brasil, Volume 2 – Ordens Boletales (Boletaceae e Paxillaceae), Polyporales (Polyporaceae/Lentinaceae), Russulales (Russulaceae) e Agaricales (Cortinariaceae, Inocybaceae, Pluteaceae e Strophariaceae).
Boletaceae